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BIOGRAFIA DETALHADA
Escrita pelo autor
Quando eu era criança o meu sonho era ser escritor, morava em Santos e vivia escrevendo pequenas histórias em caderno espiral só para mostrar para os amigos e para a família. Nisso eu tinha especial incentivo do meu pai Roberto Silva e do seu querido amigo Artur Neves. A amizade deles havia começado no Presídio Maria Zélia onde a ditadura do Getúlio  Vargas trancava os presos políticos. O meu pai havia ensinado inglês para o Artur Neves na cadeia, e o Artur Neves tinha jeito para língua, saiu da prisão falando correntemente. O Artur Neves me introduziu ao mundo dos livros de Monteiro Lobato. Além de ser um homem muito bom, que se interessava muito por mim, ele era assistente do Monteiro Lobato na Cia. Editora Nacional e logo depois foi ser editor dele na Editora Brasiliense. Esta aproximação faz parte de um artigo à parte que o leitor encontrará logo na seção Informações deste site. O Jardim da Infância (era o nome do pré) e o primário eu fiz no Ateneu Progresso Brasileiro, das inesqueciveis dona Ida e dona Jandira, ali na Avenida Ana Costa. A minha casa ficava perto, na rua Galeão Carvalhal, e no meu aniversário de cinco anos eu fiz um comício em casa, dizendo que não admitia mais que a empregada me
levasse para a escola, que aquilo era ridículo, me colocava numa situação de incompetente.
A discussão foi forte, a minha mãe era totalmente contra, mas eu ganhei.Vejam o azar, no primeiro dia, andei sozinho até a escola e, na frente da escola, quando atravessei da ilha da Av. Ana Costa para a calçada de lá, veio uma bicicleta na contra-mão, fui
atropelado e sofri um grave ferimento na cabeça que se chocou contra a quina do meio-fio. Eu não gemia de dor, eu gemia de raiva! O naufrágio dos meus argumentos. Voltei a ser escoltado, até fazer seis anos. O bafo quente, denso, pesado, daqueles verões de Santos permanece na minha memória, o sol batia muito forte, derretia o asfalto das ruas, queimava o pé das pessoas, mas eu, tirando fora cinema, circo, mágico e escola, andava sempre descalço, criei cascão no pé,  por isso não me incomodava.
Foi nessa época, entre cinco e seis anos, que aconteceu o caso muito interessante da empregada que lia em voz alta. Como eu ia ao jardim de infância à tarde, a minha mãe queria encher o meu tempo de maneira educativa de manhã e a empregada que arrumava a casa se ofereceu para ler em voz alta histórias para mim. Se a história era muito longa, ela devia ler um pedaço. O lugar que eu gostava de ouvir história era na ponta do canal três, naquele pedaço que o canal vai entrando no mar e às vezes uma onda respinga. A base da mureta era larga, eu sentava ao lado da empregada, ela abria o livro e lia. E um dia o meu pai resolver me ensinar a ler pelo sistema da cartilha antiga que tinha uma sólida capa de papelão. Uma capa séria, sem ilustração nenhuma, não queria seduzir ninguém, não estava afim de gracinhas. Aquela cartilha do Ba, Bé, Bi, Bó, Bú que não tinha grandes sutilezas pedagógicas, era pão com queijo, mas sou testemunha de que funcionava muito bem. Às seis da tarde o meu pai chegava do trabalho, sentava na poltrona grande da sala, pegava a cartilha e eu sentava na perna dele, de cavalinho. Dia a dia comecei a entrar nos mistérios da leitura. E a empregada continuou a me levar todo dia na ponta do canal e a me ler uma história. Eu gostava do jeito que ela lia, punha muita vida naquela leitura, sabia dar uma emoção. Só que, um dia, por causa das aulas de alfabetização do meu pai, comecei a acompanhar no livro as frases que ele lia. Fiquei perplexo. Esfreguei os olhos. Achei que estava tendo um delírio. O que ela falava não combinava com o que estava escrito. Essa sensação de delírio era real porque foi a primeira vez que eu li alguma coisa fora da cartilha, o meu pai ainda me achava insuficiente, eu não tinha alvará para sair lendo geral por aí. Só tinha lido cartilha, nas aulas do meu pai. Então a história acabou, resolvi tirar a limpo no dia seguinte se aquilo era delírio ou não era. O livro ficava com ela, ela não emprestava pra mim. No dia seguinte, na ponta do canal três, a leitura dela continuou. E eu acompanhei desde o começo. Era uma coisa muito estranha. O olhar dela acompanhava as linhas, como se estivesse lendo, e ela falava. Quando o olhar dela terminava de percorrer a última linha de uma página, ela a virava muito devagar, aspirava profundamente, olhava para o céu, soltava o ar do pulmão, punha o dedo indicador em cima primeira linha da próxima página, e continuava falando. Mas o que ela falava não era o que estava escrito. A história era aquela, a estrutura da história era a do livro. Mas com outras palavras, outras imagens, outros diálogos. A explicação é que a empregada era analfabeta. De noite, depois do serviço, na casa dela, fazia alguém ler pra ela o que ela ia me ler no dia seguinte. E guardava na cabeça! O fantástico é que ela gostava das histórias, ela punha vida nas histórias. E que talento teatral! Nem sei mais o nome dela, uma artista popular, uma mulher esplêndida, que ficou anônima, mas leva o eterno carinho das minhas memórias infantis. Como eu já podia ler por mim mesmo, ela foi dispensada da leitura e continuou arrumando a casa. Deve ter sofrido. A vocação dela não era arrumar casa, ela gostava mesmo é de ornamentar história para mim. Colocar a interpretação dela. Com ênfase.
A minha mãe aproveitava o sol forte para fazer cocadas ao sol, um petisco muito bom. Ao terminar o curso primário fui cursar o admissão e o ginásio como interno no Instituto Mackenzie em São Paulo, e continuei residindo em Santos para onde eu voltava todos os fins de semana e férias.
Quando eu fiz 13 anos, o meu querido pai morreu, fiquei externo e passei a  viver com os meus avós, o doutor João Marinho de Azevedo, médico e professor aposentado da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e a dona Cecilia do Val Marinho. Eles moravam na rua Vitorino Carmilo 620 que fica assim numa espécie de interseção de Barra Funda, Santa Cecilia e Campos Elisios. Morando exclusivamente em São Paulo, o meu divertimento principal passou a ser de assistir futebol no Pacaembu que não ficava longe da casa de vovô. Assistir futebol, ler a Gazeta Esportiva, o Esporte, o Mundo Esportivo, ouvir os comentários da rádio Tupi e da rádio Panamericana, eu virei uma enciclopédia de futebol. Duvido que tenha havido no mundo um estádio mais bonito e mais poético do que aquele Pacaembu antigo. E mais aconchegante. Fídias não teria feito melhor. Harmonioso do lado de fora e do lado de dentro. Cheio de vegeteção, de chorões , de gramados em ladeira, num bairro do sobe e desce, bem coisa de São Paulo. Durante os jogos noturnos era uma festa para os olhos as dezenas de milhares de pontas acesas de cigarro, ainda não ofuscadas pela iluminação moderna.
Em janeiro de 1952, em companhia de minha tia Heloisa, voei para a Europa num Constelation da SAS. O meu avô havia determinado que eu cursasse o colegial na Suiça, não me acompanhou pessoalmente porque estava muito velho e as viagens naquele tempo não eram esta facilidade de hoje. Só o meu vôo de avião desde o Galeão até Zurique, com escalas em Recife, Dakar e Madrid, demorou vinte e oito horas. Era um avião de hélice que voava baixo e a velocidade era muito inferior à de um jato atual. Voar baixo tinha uma vantagem inestimável: a gente via todos os detalhes da paisagem , nunca esquecerei aquele vôo sobre os mares verdes claros e tão brilhantes do nordeste, mares de José de Alencar, totalmente transparentes,  apareciam em baixo d’água as redes dos pescadores, muito nítidas, e depois, no dia seguinte, atravessando a França,  uma colina atrás da outra, todas cultivadas, os rios e os riachos, os bosques,  as cidades, as estradas, um trem andando. Nunca vou esquecer. Outra vantagem dos Constelations daquele tempo, comparados com os jatos de hoje, é que eram muito largos, espaçosos, a aeromoça puxava uma cama do teto, a gente pulava dentro, ela fechava a cortina e ia trazendo coisa para a gente comer, inclusive o café da manhã. Largo também era o corredor do avião, lembro que havia um grupo de meninas adolescentes, muito alegre, sentamos no chão do corredor do avião e ficamos jogando baralho. E vinha de lá a mãe de uma delas, resolvia jogar também, sentava no chão, cabia todo mundo naquele corredor do Constelation, sobrava lugar para os comissários de bordo e para os outros passageiros irem passando, podia passar no meio da gente, se queria passava do lado, lugar é que não faltava.
Fui matriculado como aluno interno na Ecole Nouvelle de la Suisse Romande que ficava em Lausanne, no bairro de Chailly e lá morei de janeiro de 1952 a abril de 1956 quando consegui o meu certificado de Maturité Fédérale Suisse. A Suiça fica bem no centro da Europa rica, apesar de muito pequena faz fronteira com Itália, Alemanha, Austria e França. Em janeiro de 1952, seis anos apenas depois do fim da segunda grande guerra, a Alemanha , a Itália e a França em processo de recuperação, a Suiça era de fato um paraíso de segurança e prosperidade. Então eu vi a mundialização muito antes de existir esta palavra. Dificilmente você sentava na mesa com duas pessoas da mesma nacionalidade.
Na minha escola o que tinha mais eram iranianos, siameses (os tailandeses eram chamados assim) e italianos, mas isoladamente (como eu, o único brasileiro) havia alunos de todos os lugares como Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Islândia, Grécia, França, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Áustria, Estados Unidos, Uruguai, Argentina, Colômbia, Turquia, Argélia, Madagascar, Congo Belga, Afganistão, e mais os suiços, alemães, franceses, italianos. O Brasil, que fica no hemisfério sul, fora das rotas internacionais, mesmo hoje apresenta um número pequeno de estrangeiros. Pode-se dizer que a vida do mundo pulsa realmente na parte de cima da Terra, América do Norte, Asia e Europa. Aqui no Brasil, nem nos cinco anos de escola primária, nem nos quatro anos de ginásio eu nunca tive um colega estrangeiro. Agora eu estava dividindo o quarto com um grego (Salmonas), um italiano (Paolazzi) e um suiço (Hench).
A Suiça era uma condensação daquilo, mas a Europa é uma família. Quando em 1955 o nosso professor de história Monsieur Yves Brassler, visivelmente emocionado, nos explicou o início da formação do Mercado Comum Europeu, eu, que já vivia há mais de três anos naquela Europa, indo para baixo e para cima nas férias, entendi que aquilo era uma coisa absolutamente lógica. São populações inter-relacionadas há muitos séculos, a Europa é um espaço geográfico e histórico comum para eles. Totalmente ao contrário de nós, na América do Sul.
O ambiente da escola era acolhedor, caloroso, impossível querer melhores amigos e melhores professores, e muito liberal em matéria de saídas e acima de tudo em matéria de não se meterem de modo nenhum com a vida particular da gente e o nosso modo de pensar. Ensino puxadíssimo, mas com muita aula particular eu resolvi aquilo. Morar num internato que tem instalações esportivas é igual morar em um clube, só quem não quer é que não vira atleta em pouco tempo. Eu virei. Até doze anos, em Santos e no Mackenzie eu havia jogado no gol, eu era um excelente goleiro. Eu fazia até um treino especial na grande varanda da minha casa na rua Galeão Carvalhal: amassava um pouco uma bola de pingue pongue, jogava contra a parede e deixava ela bater no chão para depois eu defender. Com o formato irregular do amassado a bola tomava direções impreviseis, aprimorando os meus reflexos. É claro que aquilo era irradiado e era comum que o locutor (que era eu) falasse com muita ênfase: “João Carlos acaba de fazer uma defesa sensacional! Mirabolante!” Na pré-adolescencia quando comecei a jogar no campo grande do Mackenzie, enfrentando alunos maiores, verifiquei, a custa de muita bolada no peito e muito dedo torcido, que eu era excessivamente magro para aquela posição e passei a jogar na frente. Ali na Suiça, no começo, estranhei o futebol deles, com muito choque de corpo, mas fiquei forte, acostumei , acabei ficando capitão do time por três anos.
O meu querido avô era um grande missivista, escrevia cartas muito amorosas, muito bonitas,  muito compridas, e muito  numerosas, duas por mês Quando chegava carta de vovô os meus colegas mais chegados se reuniam no meu quarto e pediam para eu traduzir.Vovô opinava sobre tudo, dava muitos conselhos. Ele escrevia: “namore as nativas,  será  útil para desenvolver o seu francês,  melhor do que ficar ouvindo o francês mal tratado destas italianas de pensionato.” Ou então: “não lhe esqueça de vigiar os dentes; que feio não apareceria no pretório um advogado com falha no frontispício da dentadura”. No começo eu tive certo pudor, temia que o meus amigos achassem o meu avô ridículo.  Foi o contrário, eles adoravam, começaram a sentir um enorme carinho pelo meu avô. E o público foi aumentando, dali a pouco tinha gente sentada sobre a minha escrivaninha ou sentada no chão. Quem tiver curiosidade pode ler umas destas cartas, de 1952, que se acha na seção Informações desse site.
Só quem morou e estudou em pais de língua francesa é que pode ter idéia da força e da influência  que o teatro de Molière tem na vida desses povos. Está presente em tudo. Todas as escolas fazem representações teatrais , com as crianças, com adolescentes, e invariavelmente uma farsa ou peça curta de Molière é levada ao palco, dirigidas de maneira muito profissional. E nas classes mais avançadas estuda-se e discute-se profundamente e com entusiasmo as comédias mais nobres, como o Misantropo, o Tartufo, a Escola de Mulheres, a Escola de Maridos, o Avaro, o Burguês Fidalgo, etc. As tiradas a gente fica sabendo de cor e são usadas diariamente em situações da vida onde elas parecem ter cabimento, igual nos paises de lingua inglesa fazem com as citações de  Shakespeare. Quando a gente sai de país francês tem-se a impressão de que o Shakespeare é o único Deus mundial do teatro, mas lá dentro  o Deus do teatro é o Molière. Onde você vai você não escapa de esbarrar numa coisa do Molière. Fui contagiado pela paixão do teatro, acabei escrevendo duas peças pequenas, só para serem representadas no Natal, na cerimônia de encerramento do ano, onde os parentes compareciam, e tiveram bastante sucesso (veja fotografia na seção Biografia Resumida). Qualquer pessoa que tenha familiaridade com os meus livros da turma do gordo percebe que eu faço avançar as minhas histórias através de diálogos: tenho certeza de que  devo isso à intimidade que  tive com as peças do Molière. Os diálogos dele “batem bola”, como a gente diz, a fala de um personagem traz uma resposta dinâmica e natural, que provoca outra resposta em cima, aquilo vive e avança: o diálogo vai dando o andamento da ação sem que o espectador se sinta guiado por um artifício do autor. Neste ponto Molière  foi o meu mestre.
Alguns dias antes do meu exame de Maturité recebi a triste notícia do falecimento de meu avô. Chorei vários dias sem parar e nunca esquecerei o amoroso e firmíssimo consolo que a minha namorada Françoise Dubuis me trouxe, não saindo do meu lado. Este afeto que eu recebi da Françoise foi inesquecível. E também do meu querido amigo Alex Thalberg. Devo a eles ter chegado lúcido e combativo para passar aquele exame tão difícil, considerado uma proeza até para os próprios suiços. E pronto, com o exame embaixo do braço era voltar. “Nada é para Sempre” é o título de um belo filme do Robert Redford. Ao entrar no Constelation da Air France, em 20 de abril de 1956, não adiantava eu me consolar me dizendo que eu era moço, que a vida estava na minha frente, não adiantava, eu estava deixando para trás o sonho de fadas de uma adolescência muito feliz, outros sonhos eu viveria, mas aquele terminava ali, na porta do avião da Air France. Nada é para sempre.
Cheguei no casarão da Vitorino Carmilo 620, onde viviam a minha avó, a minha mãe e a minha irmã Dunia. Agora eu era o único homem daquela casa, e, com certa solenidade, penetrei no escritório do meu avô e sentei na escrivaninha dele. No ano seguinte prestei vestibular na São Francisco e passei a cursar a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Participei da política universitária, tendo sido redator chefe do Boletim do Centro Acadêmico XI de Agosto e também por um tempo redator do jornal da União dos Estudantes Universitários (UEE), sem esquecer que fui redator, ainda calouro de um jornal acadêmico de curtíssima duração (dois números) que tinha o nome de FAN – Frente Acadêmica Nacionalista. Comecei a dar assistência jurídica a sindicatos, o que me levou a aprofundar os meus estudos de Direito do Trabalho, matéria em que me especializei de maneira muito sólida. O treino que recebi no escritório trabalhista do doutor Altivo Ovando, quando estudante, foi muito importante na influência que teve no meu estilo de advogar. Magnífico foi também o curso de Direito do Trabalho ministrado pelo professor Cesarino Junior, de longe o professor que eu mais admirei na Faculdade do Largo de São Francisco.
Em fins de 1961 passei a advogar em Guarulhos, primeiro para sindicatos e depois no meu próprio escritorio. Eu estava muito bem preparado e o sucesso veio rapidamente. Casei com a Marisa em outubro de 1962, em agosto de 1964 nasceu o nosso filho Roberto. Em fins de 1965 eu já tinha condições de contratar um advogado assistente, o Dr. Orlando Cruz Leite que trabalhou dezesseis anos comigo e até hoje é um amigo do coração. A chegada do Dr. Orlando tem um significado especial para a minha estréia na literatura. Enquanto eu advogava sozinho, com uma grande clientela, eu não tinha tempo para mais nada. É certo que antes eu havia contratado alguns advogados recém-formados mas eram instáveis e não me davam a confiança e a performance que eu precisava. Com o Dr. Orlando eu pude dividir o trabalho e  ficar em casa no período da manhã.  Nestas manhãs livres foi-se formando na minha cabeça a idéia do Gênio do Crime. Começaram a visitar a minha imaginação as cenas da minha infância e, entre elas, as dos concursos de figurinhas de futebol. Eu tinha vivido muito estes concursos, batendo abafa (que hoje chama “bafo”), colecionando figurinhas, colando no álbum, que a minha avó Cecilia ajudava a organizar, colocando um papel de seda entre as páginas para que elas não colassem umas nas outras. A cola era indispensável, as figurinhas não colavam só com a facilidade de hoje, tinha que besuntar de cola, e como eu besuntava muito a cola espirrava e as páginas colavam. As emoções destes concursos foram muitas, e, partindo delas, eu formei o enredo do Gênio do Crime que foi publicado algum tempo depois, em fevereiro de 1969 (veja na seção Vídeos com o Autor os vídeos: “Como Equacionei o Gênio do Crime”, “Porque o Gênio do Crime Emociona as Crianças” e “Meu Álbum”.
Em 1967  nasceu a minha filha Cecilia e em 1969 nasceu o Alex. Eu e a Marisa fechamos a conta com três filhos. Todos estão casados e moram em São Paulo e me deram quatro netas e um neto: Berenice e Nuno do Roberto, Dora e Alice do Alex e Gabriela da Cecilia. Em 1984, depois de 24 anos, terminou o meu casamento com Marisa Furquim, um casamento que deixou boas lembranças, pois a querida Marisa foi uma excelente companheira e continuamos ligados por uma grande amizade.
Publicando O Gênio do Crime eu senti que havia alcançado a minha verdadeira vocação, aquela com que eu sonhava quando era pequeno. Os anos passando fui lançando outros livros da “turma do gordo”, que agora somam treze com O Fantasma da Alameda Santos (ver na seção de vídeos: Contrato do Fantasma) que é lançado no segundo trimestre deste ano (2015) e em 26 de setembro ocorrerá a tarde de autógrafos que servirá também como festejo dos oitenta anos de idade que completo naquele mês. Fora da turma do gordo lancei também o livro de contos O Dueto dos Gatos, que não é literatura juvenil e a tradução adaptação de Three Men in a Boat, esta sim para o público juvenil.
Muitas alegrias a minha carreira de escritor me proporcionou e continua me proporcionando, tantas que seria impraticável fazer uma lista delas, por demasiado longa. Por exemplo as demonstrações de entusiasmo e carinho que nunca cessei de receber de meus pequenos e grandes leitores, por carta, por e-mail, pessoalmente, comparecendo no auditório da minha casa para entrevistas, como acontece com muita frequência (veja a seção Entrevistas de Classes com o Escritor), me mandando lembranças, me mandando desenhos e nunca poderei esquecer a tão emocionante festa dos 40 anos, do Gênio do Crime, realizada em 2009, onde, no auditório da Fnac Pinheiros, durante quatro horas as crianças e
antigos leitores deram os seus depoimentos e me fizeram perguntas (veja o video na seção Vídeos Com o Autor). Sem falar do fantástico e supreendente interesse que os leitores me demonstram por ocasião das Bienais do Livro (veja o breve vídeo João Carlos Marinho na Bienal).
João Carlos Marinho, Março de 2015
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